Neste Dia do Samba, olhamos para as raízes profundas e os ritmos contagiantes que moldaram a música popular brasileira. E no cruzamento do samba com a cultura singular da Amazônia, encontramos uma figura monumental: Chico da Silva. Nascido em Parintins, no Amazonas, em 8 de maio de 1945, Chico não apenas contribuiu para a rica tapeçaria do samba, mas também foi o responsável por “vermelhar o curral”, deixando sua marca indelével no Boi Bumbá Garantido.
Do Berço Amazônico à Noite Paulistana
A vida de Chico da Silva é uma jornada de perseverança e talento inegável. Sua infância, vivida na cidade de Parintins, foi eternizada na canção “Sua Infância” (em Tempo Bom), demonstrando desde cedo sua sensibilidade para narrar a própria história através da música.
Ainda jovem, Chico buscou novas oportunidades em São Paulo, onde, em um primeiro momento, exerceu a profissão de torneiro mecânico. No entanto, o destino tinha outros planos. Incentivado pelo ícone Jair Rodrigues, ele abraçou o talento que pulsava em suas veias e dedicou-se à carreira musical, tornando-se uma voz presente na efervescente noite paulistana. Em 1974, seu talento o levou à TV Gazeta, onde cantava obras de mestres como Agepê, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, pavimentando seu caminho no cenário nacional.
O Encontro que Gerou a “Cantiga de Parintins”
Os caminhos do destino fizeram com que Chico da Silva reencontrasse outro conterrâneo, o parintinense Fred Góes, na capital paulista. Desses encontros entre amigos, saudosos de sua terra natal, nasceu uma das canções mais emblemáticas de sua carreira e um marco na exaltação da cultura da Ilha Tupinambarana: a “Cantiga de Parintins”.
Um Pandeiro que se Tornou Sucesso Nacional
A genialidade de Chico não se limitava apenas a cantar a Amazônia. Ela residia em sua capacidade de observar e sentir o ritmo. Após o sucesso de “O Surdo” com Alcione em 1975, Chico confessou a um amigo que, em suas rodas de samba, não era o surdo que “chorava”, mas sim o pandeiro.
Essa percepção inspirou a composição “Pandeiro é Meu Nome”. A canção foi oferecida à “Marrom”, Alcione, e se tornou um sucesso estrondoso, integrando seu terceiro álbum em 1977 e vendendo impressionantes 400 mil cópias. O sucesso da parceria se repetiu com outra canção icônica de Chico: “Sufoco”.
Do Fantástico ao Curral: Legado Multifacetado
Com a carreira em plena ascensão, Chico da Silva se tornou uma figura constante nos principais programas de TV do país, como “Cassino do Chacrinha”, “Fantástico” e “Os Trapalhões”. Suas composições emplacaram como temas de novela e sucessos de rádio, incluindo hits como “É Preciso Muito Amor”, “Deus Menino” e “A Lenda dos Sete Mares do Amor”. Ele também compôs uma homenagem ao Rei, Roberto Carlos, com a música “Convite a Roberto Carlos”, que teve um videoclipe exibido no Fantástico.
Mas talvez um de seus maiores e mais emocionais feitos artísticos tenha sido o retorno às suas raízes para presentear o Festival de Parintins. Em 1996, Chico da Silva compôs a toada “Vermelho”, que se tornou uma das mais famosas do Boi-Bumbá Garantido, eternizada nas vozes poderosas de Fafá de Belém e David Assayag. A canção não é apenas uma toada; é um hino que simboliza a paixão e a cor de um povo.
O Descanso Merecido do Poeta
Hoje, aos 80 anos, Chico da Silva vive uma vida tranquila, afastado da efervescência da boemia. Na década de 90, ele enfrentou um câncer de laringe, o que o levou a uma pausa merecida, mas não diminuiu o brilho de seu legado.
Neste Dia do Samba, celebramos Chico da Silva: o torneiro mecânico que virou poeta, o sambista que emocionou o Brasil e o compositor que deu a cor e o ritmo de seu coração ao Boi Garantido. Sua história é um testemunho da força da arte e da identidade cultural.