Durante a abertura da 14ª Conferência Nacional de Assistência Social, em Brasília, o presidente Lula (PT) fez um discurso carregado de memórias pessoais, defesa enfática do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e recados claros ao cenário político contemporâneo.
O presidente destacou a importância da “consciência política” e voltou a criticar gestões anteriores, que, segundo ele, “quase destruíram” as políticas sociais do país.
Logo na introdução, Lula cumprimentou as autoridades presentes e afirmou que preferia dialogar com o público em vez de seguir o texto preparado. Para ele, o encontro era uma oportunidade de refletir sobre “o que fomos, o que somos e o que queremos ser” na construção do futuro da assistência social.
Críticas ao período pós-2018
Lula afirmou que, após 2018, o SUAS e outras políticas sociais foram alvo de negacionismo e desmonte. “Destruir é muito fácil, construir é muito difícil”, disse, ao mencionar o desmantelamento de ministérios e programas públicos, o que, segundo ele, obrigou o atual governo a retomar um processo de reconstrução a partir de 2023.
O presidente acusou adversários de promoverem “meia dúzia de mentiras” para desacreditar ações sociais, especialmente o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). “Sempre tentaram induzir as pessoas a não acreditar no que fazemos”, afirmou.
“Nunca deu certo colocar raposa para cuidar de galinheiro”
Em um dos trechos mais duros, Lula afirmou que o futuro da assistência social depende das escolhas feitas nas urnas e da qualidade dos representantes eleitos.
“Depende da qualidade dos deputados, das deputadas, dos senadores, dos governadores e do presidente que vocês elegerem se a gente vai melhorar ou piorar”, disse.
Ele reforçou a mensagem com uma metáfora direta:
“Nunca deu certo colocar raposa para tomar conta de galinheiro. Por mais mansa que pareça, colocada lá dentro, ela vai comer todas as galinhas.”
O recado foi entendido como uma referência a opositores que, segundo ele, tentam se apresentar como defensores das políticas sociais, apesar de historicamente atuarem contra elas.
Reação a narrativas sobre beneficiários
Lula também criticou discursos que associam beneficiários de programas sociais à falta de vontade de trabalhar. Para ele, a acusação de “vagabundagem” é usada de forma desumana e distorcida.
“Quando é que uma pessoa quer trabalhar? Quando recebe um salário decente e tem jornada digna”, rebateu.
Segundo o presidente, essa retórica faz parte de uma estratégia de estigmatização. “Tudo vira motivo para chamar o pobre de vagabundo”, disse.
Desigualdade e reconstrução
Lula reconheceu avanços recentes, como a proposta de isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil, mas ressaltou que o país ainda convive com uma forte concentração de renda.
Ele também afirmou que reconstruir a assistência social exigirá “muita reunião, muita conversa e muito trabalho político”.
“Vai dar trabalho, mas nós vamos fazer”, garantiu.
Defesa do humanismo
Ao encerrar, Lula fez um apelo pela recuperação da solidariedade e valorização das relações humanas. Disse que o Brasil não pode permitir que “o ser humano vire algoritmo” e retomou parte de sua trajetória, marcada pela fome e pela migração.
“A cada dia da minha vida, eu tenho que provar que alguma coisa boa pode acontecer”, concluiu.